Governo do Distrito Federal
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22/03/18 às 15h31 - Atualizado em 29/10/18 às 12h11

A indústria, o DF e seus mitos

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Júlio Miragaya, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), integrante do Conselho Federal de Economia e doutor em desenvolvimento econômico sustentável

 

É consenso que a transferência da capital da República para o Planalto Central propiciou a interiorização do desenvolvimento brasileiro. Hoje, o sertão do Brasil é outro, e Brasília é uma metrópole com 4 milhões de habitantes. Mas a nossa taxa de desemprego ainda é alta, a desigualdade social também, e os empregos de maior qualidade estão concentrados no setor público. Sem dúvida, tal quadro decorre de sermos a metrópole menos industrializada do país. E por que não nos industrializamos? Toda sociedade, desde os primórdios, vive com seus mitos. Brasília, não obstante sua tenra idade, também tem o seu: não podemos ter indústria! Procedem os argumentos apresentados? Vejamos.

O primeiro argumento é que haveria incompatibilidade entre o exercício das funções político-administrativas, típicas da capital de um país, e a existência de um grande parque industrial. Se tal suposição fosse verdadeira, como explicar o alto grau de industrialização de capitais como Tóquio, Seul, Pequim, Londres, Paris, Moscou, Cidade do México e Buenos Aires, sem que nenhuma tivesse de abdicar de suas funções políticoadministrativas?

O segundo é que a atividade industrial não tem mais o peso de décadas atrás. Desconhece-se o fato de que, se a indústria de transformação reduziu seu peso no PIB e no total do pessoal ocupado, as atividades de serviços ligados à indústria aumentaram de forma substantiva. Basta ver números de países como Alemanha, Japão e Coreia do Sul, e a recente recuperação da indústria no PIB norte-americano.

O terceiro argumento é que a atividade industrial é poluidora e deterioraria a qualidade de vida de Brasília. Tal argumento ignora os instrumentos tecnológicos e legislativos hoje disponíveis, que permitem compatibilizar a atividade manufatureira com a qualidade ambiental.

Por fim, o quarto é que não haveria espaço no DF para a implantação de indústrias. Ora, Singapura, com 716km², área oito vezes menor do que a do Distrito Federal, tem uma população que é o dobro da nossa e produz um PIB industrial 70 vezes maior. Isso mesmo, 70 vezes maior.

Como alegar falta de espaço no DF?

O que o Distrito Federal necessita é da adoção de uma estratégia de desenvolvimento ancorada na diversificação de sua estrutura produtiva, envolvendo sobretudo a atração de investimentos industriais para as chamadas cidades-satélites e para os municípios que formam a Área Metropolitana de Brasília (AMB), atraindo, consequentemente, uma ampla gama de serviços de apoio à atividade industrial. Torna-se necessário, contudo, criar as condições para atraí-los, como investimentos em logística, ampliação e diversificação da oferta de energia e qualificação de mão de obra.

Da industrialização da AMB, decorreriam consequências positivas, tais como: a) redução da enorme dependência do setor público, em termos de geração de renda e de ocupação; b) ampliação da oferta de empregos de maior qualificação e, consequentemente, de melhor remuneração; c) ampliação da capacidade de arrecadação própria e, consequentemente, da capacidade de investimentos; d) desconcentração da atividade produtiva, fortemente concentrada no Plano Piloto; e e) redução da desigualdade na distribuição social e espacial da renda.

 

Correio Braziliense,23.05.2014

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