Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Durante o período de disputa eleitoral, um dos aspectos do quadro econômico do País que suscitou maior debate foi a situação da inflação: se estava ou não fora de controle. Travou-se uma discussão inócua, pois não é preciso ser especialista em economia para saber que uma taxa de inflação no patamar de 6% ao ano não se encontra fora de controle.
O problema de se travar uma falsa discussão foi a perda da oportunidade de se discutir dois problemas da maior relevância de nossa economia: a deterioração de nossas contas externas e a perda de fôlego da indústria nacional. Nas duas situações, uma causa comum: a apreciação de nossa moeda.
O Real, sabidamente apreciado frente ao dólar norte-americano e às demais moedas, torna nossos produtos pouco competitivos no mercado internacional e escancara nosso mercado interno a competição externa. O resultado é que o Brasil deverá fechar 2014 com um déficit em suas Transações Correntes superior a US$ 80 bilhões, decorrente da soma de um histórico, e crescente, déficit nas contas de serviços e de rendas com um inusitado déficit na balança comercial, tornando o País dependente da atração de capitais. Como os investimentos externos diretos, da ordem de US$ 60 bilhões, não cobrem o déficit, somos obrigados a atrair o chamado hot money, capitais especulativos.
A baixa competitividade de nossos produtos, notadamente os bens industriais, reduz sobremaneira a capacidade exportadora de nossa indústria e a fragiliza na competição com a produção industrial de países concorrentes, especialmente os asiáticos e os EUA. Nos últimos sete anos, o peso da indústria em nosso PIB caiu de mais de 18% para pouco mais de 13%, e o emprego industrial vem apresentando quedas sucessivas nos últimos meses.
Evidentemente que outros fatores concorrem para esse quadro, mas, sem dúvida, o fator determinante é a excessiva valorização de nossa moeda. Urge a nova equipe econômica corrigir tão grave distorção.
Jornal de Brasília, 27 de novembro de 2014