Osvaldo Russo – Diretor de Estudos e Políticas Sociais da Codeplan

Milhares de jovens, em sua maioria de idade universitária, pertencentes a segmentos sociais de classe média, engrossam as ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e outras grandes cidades brasileiras, mobilizados, em geral, por redes sociais da internet, sem um comando central e sem tutela de instituições ou partidos políticos.

Nos últimos dez anos, foi notável a ascensão social dos segmentos mais empobrecidos. As políticas sociais reduziram drasticamente a pobreza garantindo maior acesso aos empregos, benefícios e serviços. A chamada classe C, engrossada por milhões de brasileiros, forma uma nova classe trabalhadora, sem cor partidária ou sindical, mas que exerce um novo protagonismo social mais exigente com os serviços e gastos públicos.

Os aumentos de tarifas nos transportes públicos e os gastos com a realização da Copa do Mundo constituem combustíveis aparentes das mobilizações de massa, insuficientes, todavia, para explicar o tamanho alcançado pelas manifestações.
Os protestos têm motivações imediatas, mas as causas podem ser crônicas: os sem terra que o digam. Minifúndio para pobre, latifúndio para rico. Transporte público precário para pobre, automóvel importado para rico. Escola pública para pobre, escola privada para rico.

Hospital privado para rico, SUS público para pobre. Como disse a presidenta, o Brasil acordou mais forte, é preciso compreender e dialogar diante da indignação.

É preciso superar a ordem dos privilégios pela contraordem da igualdade. A ordem da corrupção pela contraordem da ética. A ordem do desemprego pela contraordem dos desempregados. A ordem da competição selvagem pela contraordem da solidariedade humana.
A ordem da degradação pela contraordem da sustentabilidade. A ordem política conservadora pela contraordem das ruas, inovadora, democrática e popular.

Jornal de Brasília, 28 de junho de 2013