A lacuna de emprego, geradora de volume de desemprego sem precedentes no Brasil, com mais de 13 milhões de pessoas, é a parte visível da crise econômica. Ela se abateu sobre a indústria, que reduziu a produção e dispensou quantidade de operários, obrigando-os a procurar formas alternativas de sobrevivência, sobretudo em atividades do chamado circuito inferior – termo do geógrafo Milton Santos aplicado à parte da economia complementar ao circuito superior, responsável pelo dinamismo (ou queda dele) de um país. Como as grandes cidades têm o maior contingente produtivo, industrial e de serviços, foi nelas que o desemprego impactou com maior força, como revelam as pesquisas mensais do IBGE e o Sistema Seade/Dieese/Codeplan.
Apoiados nessas pesquisas, atenta-se para dados indicadores da evolução do emprego e do desemprego. Assim, a partir de 2004, o desemprego no Brasil tomava rumos incontidos, mesmo com setores demonstrando oscilações e “recuperação”. Múltiplas circunstâncias, internacionais, nacionais e locais, afetaram o parque industrial, que, por sua vez, repercutiu, em cadeia, nos serviços, sobretudo no comércio. Assim, o desemprego em metrópoles pesquisadas é de 16,3% em Porto Alegre, de 18,5% em São Paulo e de 19,6% em Belo Horizonte. Três metrópoles apresentaram taxas superiores a 20%: Brasília, 20,9%, Recife, 23,5% e Salvador, 25,3%.
Recentemente, a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese/Codeplan/GDF(PED/setembro/2017) indicou três metrópoles com menos de 20% de desemprego em relação à população economicamente ativa (PEA): Porto Alegre, 13,3%; São Paulo, 17,8%; e Brasília, 18,7%. Acima de 20%, Salvador, com 23,7%. Essas quatro metrópoles empregavam 13.503.000 pessoas em setembro de 2016, com leve aumento de 153 mil empregos em setembro de 2017, atingindo 13.656.000 trabalhadores. Ainda em setembro de 2016, o total de desempregados dessas cidades era de 2.896.000 pessoas, com pequeno aumento de desempregados de 46 mil pessoas em relação a setembro de 2017, quando o total atingia 2.942.000 brasileiros. Saliente-se que, desse total, 1.988.000 indivíduos se encontravam sem trabalho formal na metrópole paulista. Por fim, o Brasil possui o mais elevado desemprego de sua história, indicando enorme desafio a enfrentar por parte de empresas e autoridades públicas.
De modo geral, nota-se preocupante aumento do tempo para encontrar emprego, sobretudo a partir de fevereiro deste ano: recorde de 60 semanas em Salvador; 46 semanas em São Paulo e 39 semanas em Porto Alegre. A PED indicada refere que a crise de desemprego afeta os mais jovens, na faixa etária entre 16 e 24 anos nas quatro metrópoles: 50,9% em Salvador; 41,9% em Brasília; 37,1% em São Paulo e 22,4% em Porto Alegre. Portanto são os jovens os mais vulneráveis, necessitando de políticas públicas a eles dirigidas com atuação direta de governo e empresas. A urgência requerida será para incrementar oferta de preparo educacional e técnico para as atividades a eles dirigida. Necessita-se ampliar o número e a qualidade de escolas técnicas para os jovens, visando habilitá-los para as atividades cada vez mais exigentes quanto ao preparo profissional.
Finalmente, não se tem antevisão de políticas para superar ou atenuar os gargalos e desafios estruturais nas grandes cidades brasileiras, responsáveis pela vida econômica nacional. Por isso, é desejável que se ampliem os investimentos no setor de pesquisas e inovação, em ciência e tecnologia. Medidas mais corajosas serão de fundamental importância para ultrapassar os percalços acima apontados, com foco no soerguimento do país nas próximas décadas.
Aldo Paviani é professor emérito da UnB, pesquisador do Depto de Geografia e do Neur/Ceam/UnB, diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da Codeplan
Publicado originalmente no Correio Braziliense, em 14/11/2017