Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia

O Brasil, como toda grande nação, enfrenta diversos problemas, com maiores destaques para inflação, emprego, infraestrutura, energia, transporte e o trio saúde, educação e segurança públicas. Mas talvez o mais grave deles, a extrema desigualdade social, é comumente esquecido e “varrido para debaixo do tapete”. E pior, as tentativas do governo de reduzir a desigualdade, via políticas sociais, são ferozmente combatidas como populistas, viciantes e ineficazes.

O governo gasta cerca de R$ 260 bilhões por ano com o pagamento de juros da dívida pública a banqueiros e grandes investidores e tais gastos não suscitam maiores protestos por parte da nossa classe média. Já os gastos com o Bolsa Família, de R$ 22 bilhões por ano, equivalente ao que é gasto em um único mês com os juros da dívida pública, provocam veementes protestos nas redes sociais pela parcela mais rica da população. Porque será que isso acontece?

Lamentavelmente, a parcela majoritária da classe média alta vê apenas seus interesses imediatos.

Quer a redução de tributos, mesmo que isso signifique que o governo desampare os mais pobres, para sobrar mais dinheiro para aquisição de bens supérfluos ou para suas viagens ao exterior. Quantas vezes não se ouve dizer que o Bolsa Família e o seguro desemprego existem para sustentar “vagabundos”

Não surpreende, portanto, que um ex-presidente, tido como intelectual esclarecido, que quando presidente chamou os aposentados de “vagabundos ” e as hordas de desempregados gerados por sua política econômica neoliberal de “inimpregáveis”, tenha declarado que os pobres são mal informados e por isso votam na candidata do governo.

Enfim, os brasileiros decidirão em 26 de outubro que tipo de sociedade desejam: a que busca um menor desequilíbrio entre as classes sociais ou a que acentua as diferenças. Com a palavra o eleitor.

Jornal de Brasília, 16 de outubro de 2014