Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Após muitas especulações sobre as vantagens ou desvantagens da sua realização em nosso país, a Copa do Mundo de Futebol/2014 começa hoje. Embora seja um evento organizado pela Fifa, portanto, privado, muitos têm aproveitado a ocasião para debitar na “conta do governo” problemas relacionados à sua realização. E o governo fez a sua= parte, financiando a construção e reforma dos estádios e implantando obras de mobilidade.
O debate enviesado e parcial encobriu uma discussão, a meu juízo, mais relevante: a progressiva mercantilização do futebol no Brasil e no mundo. Os clubes têm donos; jogadores pertencem a empresários; “cartolas” enriquecem de forma escandalosa; compram-se resultados e juízes, e até mesmo torcidas organizadas são profissionalizadas. Não surpreende que a Fifa e a CBF acumulem denúncias de corrupção e que, supostamente, o Catar tenha “comprado” a Copa de 2022.
O futebol já serviu ao regime fascista de Mussolini – 1934 -, às ditaduras militares do Brasil – 1970 – e da Argentina – 1978. No Brasil, era o tempo da “Pátria de chuteiras”. O esporte já foi considerado o “ópio do povo” por atenuar as contradições sociais.
O fato é que o futebol de hoje dá muito dinheiro a um punhado de jogadores, dirigentes, empresários, redes de TV e empresas patrocinadoras, mas 98% dos jogadores no Brasil ganham até três salários mínimos. A mercantilização também penalizou a massa torcedora e se reflete no afastamento do povão dos estádios. Não poderia ser diferente. No atual campeonato brasileiro da Série A, em vários estádios, o ingresso mais barato ronda a casa dos R$ 50. Há 30 anos, os torcedores pobres do Rio de Janeiro pagavam o equivalente a R$ 3 na geral e R$ 10 na arquibancada do Maracanã. E posso atestar que a qualidade dos jogos era muito superior. Talvez isso explique melhor o relativo distanciamento do povo em relação à Copa, deixando de enfeitar e pintar as ruas como nas Copas passadas.
Jornal de Brasília, 12 de junho de 2014
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