Júlio Miragaya
Presidente da Codeplan e Conselheiro do Conselho Federal de Economia
De 3 a 5 de setembro, foi realizado em Goiânia o XXIV Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia. Na cerimônia de abertura, o ilustre economista e prof. dr. da Unicamp Wilson Cano, agraciado com o prêmio de Personalidade Econômica de 2014, lamentou que o debate econômico neste ano eleitoral esteja sendo monopolizado pelos marqueteiros das campanhas eleitorais, pelos jornalistas e pelos economistas do mercado financeiro. São praticamente ignoradas as opiniões dos economistas das universidades, do setor público e das associações empresariais não financeiras e das entidades representativas dos economistas.
Decorre, então, o enorme “rebaixamento” do debate econômico e as recorrentes citações de inúmeras bobagens. Começa pela discussão inócua sobre um suposto descontrole da inflação no País, quando qualquer estudante de Economia de 1º período sabe que, desde 1994, estamos distantes desse risco. Outra enorme bobagem repetida é que a renda das famílias está sendo corroída pela inflação, quando se sabe que ela subiu de forma consecutiva nos últimos 44 trimestres, em face dos substantivos aumentos em termos reais do Salário Mínimo e de que mais de 80% dos reajustes salariais obtidos nas negociações coletivas se darem acima do IPCA.
Por fim, a de que a população está excessivamente endividada. O acesso ao crédito é um bom sintoma de funcionamento de uma economia de mercado e, no Brasil, somente agora temos o crédito representando 50% do PIB, quando em vários países desenvolvidos esta relação supera os 100%. Ademais, o que cresceu foi a chamada “boa dívida”, a imobiliária, sintoma de que milhões de famílias brasileiras estão adquirindo sua sonhada casa própria, tendo decrescido a “má dívida”, representada principalmente pelo cheque especial e pelo cartão de crédito. Que em 2015 possamos fazer um debate mais qualificado sobre nossa Economia.