Júlio Miragaya
Presidente da Codeplan e Conselheiro do Conselho Federal de Economia
A Copa de 2014 revelou uma grande campeã, a Alemanha, numa final emocionante contra a Argentina. Ao Brasil, resta, mais do que malhar o Fred, aprender com os erros, que não foram poucos.
Errou o comando da CBF, que há anos se vê envolvido em escândalos financeiros e não tem uma proposta de modernização e fortalecimento do futebol brasileiro, ao escolher uma comissão técnica obsoleta e vinda de alguns trabalhos questionáveis.
Errou a comissão técnica, que não percebeu que dispunha de jogadores de nível técnico apenas mediano, que não dotou a equipe de um padrão tático (nossa jogada mais frequente eram os chutões sem rumo do David Luís pra frente), e que, levianamente, colocou uma enorme pressão sobre uma equipe jovem e despreparada, ao afirmar que ganhar a Copa era nossa obrigação.
Já a maior parte da nossa mídia errou duplamente, ao prever o caos na organização da Copa (muito elogiada pela mídia internacional) e o sucesso da seleção (que fracassou rotundamente). Teceu loas à seleção de Felipão, por ter vencido a Copa das Confederações, torneio caça- níquel da Fifa, pouco valorizado pelas seleções de ponta da Europa.
Basta de ufanismo! O Brasil não tem mais o melhor futebol do mundo há algum tempo. Termais títulos não representa tudo. O Everton, da Inglaterra, possui nove títulos nacionais, mais do que a soma dos títulos do Chelsea (4) e Manchester City (4), mas nenhum analista inglês considera o time da cidade de Liverpool melhor que os vencedores de cinco dos últimos dez campeonatos ingleses.
Por fim, resta saber o destino que será dado aos R$ 44 milhões que a CBF recebeu da Fifa. Seria um despropósito, como cogita a CBF, dar parte desse dinheiro para a comissão técnica e os jogadores. Teriam esses o nobre gesto dos jogadores argelinos que doaram seus prêmios para os palestinos de Gaza.
Jornal de Brasília, 17/07/2014