Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Uma das maiores controvérsias no atual debate eleitoral versa sobre a inflação, se está ou não fora de controle. É necessário que se faça uma análise técnica. Primeiramente o óbvio: a inflação, qualquer que seja, corrói o poder de compra, em termos nominais, dos salários. Isso vale para qualquer país e qualquer período. O que importa, nesse caso, é o tamanho da taxa de inflação e se as reposições salariais recompõem o poder de compra dos trabalhadores.
Em relação ao tamanho, a inflação no Brasil, medida pelo IPCA, tem sido, no governo Dilma, em torno de 6% ao ano. No Governo Lula, a inflação anual média foi de 5,77% e, no Governo FHC, de 9,10% ao ano. Já no Governo Sarney, chegou a 1.973% em 1989, e, no Governo Itamar, atingiu 2.477% em 1993. Fora de controle, portanto, esteve nesses dois casos, mas, evidentemente que no governo Dilma e, tampouco, nos governos Lula e FHC, a inflação esteve fora de controle.
Quanto à recomposição do poder de compra dos salários, o Dieese informa que cerca de 90% dos trabalhadores conseguiram, em 2013 e 2014, a reposição da inflação, ou mesmo, aumento real. Por essa razão, a renda das famílias no Brasil cresce há 44 trimestres consecutivos.
Qualquer estudante do 1º período de Economia sabe que não há descontrole da inflação no Brasil e tampouco ela reduziu o poder de compra dos salários. Não é razoável, portanto, que dois economistas experientes, um, candidato a presidente, e outro, seu “sugerido ” ministro da Fazenda, continuem batendo nessa tecla de descontrole da inflação. A abordagem dos problemas do país deve ser feita de forma mais técnica, o que não tem ocorrido no caso da discussão sobre a inflação.
Em suma, apostar na desinformação em nada ajuda no necessário debate econômico.
Jornal de Brasília, 23 de outubro de 2014
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