Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon)
Quando Marx e Engels afirmaram no Manifesto Comunista de 1848 que “A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias é a história da luta de classes. Homens livres e escravos, patrícios e plebeus, senhores e servos numa só palavra: opressores e oprimidos”, não imaginavam que o termo “luta de classes” cairia em tamanho desuso. Não por ter sido superado seu principal combustível: a enorme desigualdade social entre capitalistas e assalariados. Pelo contrário, não obstante as lutas e revoluções sociais ao longo desses 166 anos, a desigualdade se acentuou em todo o planeta.
As 500 famílias mais ricas do mundo, com fortuna na casa dos bilhões de dólares, abocanham mais da metade da riqueza mundial, um montante maior que a acumulada pela metade mais pobre da humanidade – quase 4 bilhões de pessoas. Grande parte desta realidade decorre da ação dos Estados Nacionais que estão a serviço dos capitalistas. O Governo dos EUA, por exemplo, despejou mais de 100 bilhões de dólares para salvar os bancos privados na crise de 2008/09, dinheiro que não existiu para amenizar as agruras de 45 milhões de norte-americanos abaixo da linha de pobreza.
O que espanta é a desideologização da questão, pois não se fala mais de exploração do trabalho. Tenta-se dissociar as imensas fortunas amealhadas, as mansões, carrões, jatinhos e iates do pagamento de parcos salários e da existência de milhões de desempregados. Aliás, patrões que pagam a seus empregados salários miseráveis são tratados como se concedessem uma dádiva. Espertamente, transferem toda a responsabilidade pela pobreza de milhões de pessoas para os governos.
Mas a luta de classes persistirá enquanto existirem exploradores e explorados, opressores e oprimidos, e a esperança de um mundo socialmente mais justo e igualitário estiver presente nos corações e mentes de milhões de seres humanos.