Júlio Miragaya
Presidente da Codeplan e conselheiro doConselho Federal de Economia
Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço! Poucas vezes essa expressão foi tão verdadeira quanto para expressar o receituário macroeconômico norte-americano.
Em relatório recente, o Fed, Banco Central dos EUA, endossou estudo do economista neoliberal James Lord, do Morgan Stanley Bank, que inseriu a economia do Brasil entre as “Cinco Frágeis” do planeta, ao lado de Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul, países que, segundo ele, exigem maior rigor fiscal e as tais reformas liberais.
Ocorre que o estudo de Lord foi devidamente desmascarado. Demonstrou- se que se os EUA fossem inseridos na suspeita seleção de 15 países, estariam nessa lista, e não o Brasil. O déficit americano em conta corrente é similar ao do Brasil; o déficit fiscal nominal é de 5% do PIB, contra 3% no Brasil; a dívida pública bruta equivale a 106% do PIB, contra 57% no Brasil, sem falar que nossas reservas internacionais representam 150% das importações – muito acima do patamar norte-americano.
A marota lista excluiu também os chamados “queridinhos do mercado”, como México, Chile e Peru, porque vêm fazendo as reformas que o capital financeiro exige. Ou seja, como disse Bush, “quem está comigo é meu amigo, quem não está…”. Assim, todo apoio a esses três países que, junto com a Colômbia formaram a “Aliança do Pacífico”, torpedeando o projeto da União das Nações da América do Sul (Unasul).
Para Brasil, Argentina e Venezuela, que se opuseram ao projeto de domínio norte-americano representado pela Alca, as pedras.
O geógrafo britânico David Harvey assinalou que os EUA proporcionam proteção econômica e militar a toda classe capitalista, onde quer que ela se localize, desde que, em troca, essas elites adotem uma política abertamente pró-americana em seus respectivos países. Daí tão grosseira manipulação ser endossada por boa parte da nossa mídia
e por nossa elite americanizada, a mesma que adora comemorar aniversário em Miami.
Jornal de Brasília,20.02.2014