Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Os processos eleitorais, no Brasil, são fortemente dominados pelo poder econômico, com as empresas financiando candidatos com doações milionárias, esperando a futura “retribuição” e imperando o chamado “Caixa 2”. O fim desse processo viciado não interessa aos grandes grupos econômicos, pois, através dele, mantém os seus lobistas nos parlamentos. Dessa forma, ao condenar um punhado de pessoas na Ação Penal 470, o STF julgou a exceção para manter a regra.
E para manter a regra, era necessário encontrar bodes expiatórios, dar satisfação à “ética” de uma pequena burguesia – que é tolerante com empresários corruptos, que compram favores e são tratados como benfeitores – mas que clama pela condenação dos ex-dirigentes petistas, pois no fundo quer a condenação do PT e de toda a luta pela melhoria da condição de vida da classe trabalhadora. Marx dizia que a pequena burguesia aspira ser burguesa e teme ser proletarizada. Daí sua bajulação pela burguesia e seu ódio pela classe trabalhadora.
O STF, que julgou baseado em fatos presumidos, é o mesmo que mantém engavetado o processo do Caixa 2 tucano em Minas, não julgou a compra de votos da reeleição de FHC e que “anistiou” os crimes de tortura da ditadura militar.
A remoção dos presos para Brasília, num espetáculo midiático e de violação do direito da pessoa, chocou o próprio ministro Marco Aurélio Mello, pois a Lei 7.210/84, conhecida como Lei de Execução Penal, confere o direito do preso cumprir pena em local próximo ao meio social e familiar. Na semana da Consciência Negra, é lamentável o comportamento de pessoas de origem humilde que, ao ascenderem a postos elevados, busquem agradar os poderosos, repetindo o que faziam negros que atuavam como capatazes dos fazendeiros escravistas ou policiais negros sul-africanos que reprimiam a luta antiapartheid.
Jornal de Brasília, 28 de novembro de 2013