Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia e Presidente da Codeplan
O Brasil foi alvo de uma verdadeira agressão por parte da Standard & Poor’s (S&P), agência de classificação de risco sediada nos EUA que rebaixou o rating (risco) do Brasil de “BBB ” para “B BB -”. Para tal decisão, alegou um quadro de deterioração fiscal, baixo crescimento e até mesmo a forte atuação dos bancos públicos. Mas, que credibilidade merece uma agência que em setembro de 2008 dava “boa nota” ao banco Lehman Brothers que quebrou dias depois? Lembremos que isso foi o estopim de uma crise econômica mundial que perdura até hoje.
Se o problema é baixo crescimento, por que não rebaixam o México que cresceu 1% em 2013, menos que a metade do crescimento brasileiro? O México gerou 200 mil empregos sem 2013, enquanto o Brasil gerou 261 mil num único mês – fevereiro passado. Certamente porque trata-se do“ queridinho do mercado ”, que abriu o setor de petróleo e privatizou os bancos públicos. E a demais, geração de emprego e aumento de renda do povo não são variáveis que importam para analistas neoliberais. Se o problema é deterioração fiscal, e se acham que o superávit primário do Brasil de 1,9% do PIB é insuficiente, por que não rebaixam os EUA que tem déficit primário de quase 4% do PIB e uma dívida pública de 106% do PIB – quase o dobro da brasileira que é de 57%?
A resposta está no comentário de Murilo Ferreira, Presidente da Vale, ao jornal Valor Econômico, sobre relatório de analistas do mercado financeiro que apostam numa crise financeira na China: “A China tem as maiores reservas do mundo, 4 trilhões de dólares. Parece, para esses analistas, que quem tem dívida de 17,3 trilhões de dólares é a China. Mas não, são os EUA, de onde parte a maior parte desses relatórios”. O mais chocante é ver tamanha agressão ao Brasil. Agressão que vai trazer prejuízos à economia nacional e ser comemorada por setores da mídia oposicionista. Eles se merecem.
Jornal de Brasília, 27.03.2014
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